
O mistério do beija-flor
Sim, por inúmeros dias, todos longos, e por noites adentro,
Ó amor meu, com minha alma padecendo volto a te esperar.
Sempre olhei inutilmente a minha volta,mas só vi o mundo
A girar, a girar e a girar sem rumo, sem fim e sem ver a quem.
Girava sem piedade, ferindo, não tendo a tua física presença.
Gira sempre nos apresentando a interminável, miserávelgana.
Gira apontando-nos a incessante, crescente e funesta agressão.
Gira sem nos trazer por nossa opção da tão esperada união.
Oh mundo, por que somente ao estar triste, abatida e a partir,
Trouxeste-me ele de volta? Veio infinito naquela pequenez.
Exíguo corpo palpitante e coberto pelo seu brilhante colorido,
Profundamente quieto dormiu na concha das minhas mãos.
Olhei emocionada no fundo de seus olhos e alisei o seu corpo.
Beijei-o suavemente por vezes.Muito chorei sem ver o tempo.
Pedi-lhe que ficasse e me protegesse, mas deixei-o triste partir.
Desolada permaneço, mas com lucidez sinto-o bem presente.
Quais leituras ao nobre e ao inesperado regresso dele posso fazer?
Quando e como o nosso esperado dia voltará a nos contemplar?
Perguntas sem respostas, mas os nossos desejos podem vir a ter.
Até agora gozei as minhas lembranças tão solitária, quero partir!
São Paulo, dezembro 1998.