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Primeira Verdade
 

Antes que meu sonho teça
Mitologias e cosmogonias,
Antes que o tempo se cunhe em dia,
Quero novamente ver o meu sempre mar.
O sempre mar que lá já estava e é pura harmonia.
Ser perverso e simulado, que rói pilares
Da terra e da alma, é um mar e é muitos mares.
Quando para o mar olho é como se o visse pela primeira vez,
Sempre. Como o assombro que as coisas doídas
Deixam sinais cunhados na alma. Como o fogo de uma fogueira.
Agora, quem é o mar e quem sou eu?
Sabê-lo-ei no dia que se seguirá a minha agonia!

 

 

 

Segunda Verdade
 

Ah alma, que da minha alma se aproxima,
Calma. Desperta-me do sonho em meio!
Prende-me e nos cinja de um doce enleio.
Venha, pois noite fria caiu. Como a dois lírios
Que se prende e enlaça um vime, quero prender-me a ti.
Assim, desta existência que me oprime

Sem verídico amor de alguém, quero desprender-me,
Pois que nela achar o bem já não mais creio.
Vamos, cândida alma, subamos lado a lado ao seio
Infinito do Deus salvador, sereno e de sublime amor.

 

São Paulo, 26.VII.2013.

 

 

 

Terceira Verdade
 

As pestanas estão a arder. No peito lágrimas contidas,
Sem medo, porque o sinto e sinto que será tempestade
Por mais esta noite. Depressa venha, há algo a não ser lembrado.
O ar está tão abafado e eu estou morta sem ter vivido.

Soerguendo-me, do catre ao raiar a luz do dia,
Olharei à volta absorvida e sonolenta...
Assim, recomeçarei a entoar mais uma canção bravia.

 
São Paulo, 27.VII.2013

 


 

Quarta Verdade
 

Meu mundo estava enredado pelo sonho
E só uma verdade viveu dentro de mim:
Esperava homem de Deus, companheiro e amante amado.
Mas espelho verdade apontou-me inverdades.

 

Aquela praia mostrou-me a saída:

Como por apenas duas semanas, sentindo-se por mim não querido
Ao darmos descanso aos timbres e quirelas,

Elevados desejos de ouvir a palavra.


E aos pés de Deus orar, a devoção esgotaria?
Espelho sempre mostra coisas só em parte
Numa gélida e indiferente matéria.
E são muito falsas e duplamente falsárias.


Meus sentimentos não alertados nublaram senso ordinário.
E realidade estranha deixou-me em choque.
Por isso, ao ler e relendo o senso sábio, vero e vário,
Das frases ilusórias e fantasiosas, encontrei os nexos.


Procurando conhecer o desconhecido mundo, não o vero,
Descobri  que aquele saber e o amor não andavam juntos!


Praia Bela, 06.VIII.2013

 

 

 

Quinta Verdade
 

Esquecida, dormindo e olhando ao infinito

Através de uma indescritível janela de alvenaria,
vi cair do céu branca renda a dançar.


Surpresa vi papi, mamãe em vida, saudosa tia mãe 
e tantos outros amados bailando sobre a terra
que um dia há de me aquecer.

Tinham semblantes festivos,
sorriam, cantavam e dirigiam-me olhares de paz e de amor.

Minhas pestanas pesavam e meu coração pasmado disparou,
expressando-se por meio de um moído grito meu!
E minha voz rouca ouvi...

Nesse duplo transe,  o celular tocou trazendo-me ao real.
Ao real ? Meu Deus!... Incrédula recebi a notícia 
esperada, mas não elaborada: partiu o desconhecido homem.

(pessoa nunca havia tocado pelas minhas mãos,
nem teve meus olhares profissionais
e tão pouco ouviu sons blues de minha voz)

Pessoa, cujo coração resistente levou-me a orar por ela,
Por isso veio à mim por meio de mensageiros irmãos.
Segurou-se àquela renda branca descida dos céus
E aos meus eternos amores encontrou-se.

No peito, fortes lágrimas contidas estão!
Mas bem sei que ao se libertarem Ele as enxugará!
Ao meu lado Jesus Cristo colocar-se-á segurando-me
mais uma vez, neste dia. Imensa tempestade passará...! 


Praia Bela, 11.VIII.2013


 

 

Sexta Verdade
 

À margem do mar, azul verde cinza, espuma e chia
Sobre a areia quente e molhada meu pensamento.
Por certo, diariamente e de longe olho o mar absorta.
Tudo isso reflete a minha aparência de algum medo.

O céu azul, rio desaguando ao mar e espaço verde coberto,
Por alegrias infindas, despertam fardos nos quais existo.
Nada e tudo é real, pois tudo é como sentimento enxerto.
E só existo do que nisto tudo e no nada é dito.

Tem sentido? Tem sentimento sentido e desperto:
Qu’eu veja os mimos não dados ao norte e nordeste brasileiro.
O certo de minha ideia sentimento, agora cada vez mais perto,
Empurra-me à atitude pensada, captada num sonho a parte escassa.

Desde um mil novecentos e noventa e oito sonhava dar, online,
Meus pensamentos, ainda que controversos aos leitores
E aos amigos, conhecimentos vindos do meu parco universo.
Mas este torrão, que me parecia distante, não via meu verso.

Estou a elaborar um adeus aos amigos do cotidiano.
A mim e a todos brasileiros, para além da net, preciso florir.
Ora, ainda há muito tempo. Primavera sempre será ao que crê!

 

São Paulo, 20.IX.2013

 

 

 

Sétima Verdade

 

Algumas vezes, a morte trago em mim.
Mas não, confesso, não é bem a minha.
Ela é como se fosse uma chuva fininha,
Que vai moendo o coração. Ai de mim!

 

Ah, sei quando e como entra.  A sinto!
Logo, acomoda-se querendo pousada.
Abandono-me à tempestade cansada
Pelas mortes sentidas, então, eu grito!

 

Deus meu, se pelo menos fosse sonho!
Mas não é! É minha realidade estranha
Que desconsiderei. Agora se arrebanha
Levando-me incomum! Então, eu morro!

 

Parte morreu! Chegou o dia: digo, já chega!
Amor, enquanto der. Não terei ser dorido
Por ingênua crença no outro. Andar contigo
Não mais! Ó, iludir-me querias com astúcia!

 

Não terei nunca mais esta sina! Escolhi de vez
Não ser mais crédula à tua simulada carga.
Não darei, à maré, vazão à tua morte simulada.
Aqui já desguarneço-te! Peço-te, apeie de vez!


São Paulo, 24.X.2013
 

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