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Trilhei Seu Caminho

 

Devo ao Prof. Dr. Walter Hugo de Andrade Cunha o caminho que segui na área científica como lida de estudo e investigação: a Etologia.  Ao cursar o Mestrado no Departamento de Psicologia Experimental e após contato com a Etologia, tive o grande desejo de trocar de área de pesquisa, mas faltava-me coragem. Com carinho e mão firme, o Professor Walter Hugo ajudou-me a mudar minha bússola.

 

No Laboratório de Psicologia Comparada, Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da USP, eu fazia observações semanais referentes a um dos cursos ministrados pelo Professor Walter, e, como parte do curso, tinha reuniões semanais na sua sala para discutir as minhas observações a respeito dos comportamentos de formigas. Os registros, que eu anotava em fichários, eram analisados e discutidos minuciosamente após o Professor Walter tê-los analisado e neles anotado os seus comentários, ao lado de cada frase minha. Numa de minhas observações, percebi e descrevi um fenômeno até então não observado nos sujeitos da nossa colônia. Senti estranheza nos comportamentos das formigas e tive até receio ao fazer os registros dos seus movimentos. Ao entregar o fichário com tais registros ao professor Walter Hugo, para que ele os analisasse, tive muito medo...

 

Estaria a delirar? Estava sem dormir na noite anterior, sem me alimentar e trancada no Departamento, em pleno sábado à tarde. Ao observar essas “coisas” estranhas, pedi aos colegas presentes que olhassem a colônia para eles observarem nas suas o que estava a perceber. Aos meus estranhamentos, obtive respostas negativas dos amigos. Ora, o que poderia ocorrer após esses registros? Tremi nas bases...! Quanta paranoia! Naquela observação vi – muito assustada - que as “nossas” formigas apresentavam movimentos agitados, alvoroçados: quiçá como consequência a um terror de alma, de sentimento, de emoção e de cognição? Elas apresentavam medo ao desconhecido, à ameaça, à morte? Explico: todas as formigas do laboratório haviam sido envenenadas pelo que haviam pulverizado em seu alimento - as folhas das árvores ao redor do Departamento de Psicologia Experimental.

 

Ora, após o Professor Walter Hugo analisar aquela tarefa, num abençoado encontro, ele me convidou para ser sua orientanda: mostrando-me com pouquíssimas palavras o seu afeto cuidadoso, o seu olhar observador e zeloso como um excepcional e humano estudioso, pesquisador e gigante orientador. Indo com esses espantosos, surpreendentes e humildes gestos ao encontro do meu ideal - mudança de área de estudo e pesquisa.

 

Após agradecer com constrangimento o que jamais imaginava alcançar, o seu honroso convite, e com lágrimas a correr internamente pelos meus olhos, expliquei ao Homem filósofo, nato leitor de alma e pesquisador, que estava encantada com Etologia, que pretendia empregá-la em algumas de minhas aprendizagens, mas que seria em crianças rotuladas como hiperativas no meu objeto de estudo.

 

Silenciosamente, sem nada questionar e sem mostrar traço de surpresa e/ou reprovação em sua lúcida e tranquila face, o professor solicitou, de imediato, a presença da professora doutora Ana Maria de Almeida Carvalho na sua sala, pedindo-lhe, simplesmente, sem nada lhe explicar, que aceitasse ser a orientadora da minha dissertação de mestrado. Ao que a pesquisadora, de pronto, disse-me que fosse à sua sala para marcarmos um imediato encontro.

 

Desde então, conservo em total silêncio o que havia recebido de Deus, em 1980, mas guardando no profundo de minha alma aquele gratuito presente vindo por meio de um convívio relâmpago com o Homem Walter Hugo Cunha. Mimo que me veio como um raio a derrubar sérios temores e humilhações, plantando, na minha emoção, na minha alma e na camada mais profunda do meu cérebro, sementes de fé, de esperança, de força e de coragem; marcando, assim, definitivamente, meus prazerosos rumos na Psicologia.

 

Nunca mais dialoguei com esse mito grego que descido dos céus do Olimpo, na forma de Homem, chegou a mim, sua aluna. E, assim, foi que expressei com simplicidade nas ocasiões que pude registrar em trabalhos finais, do Mestrado e do Doutorado, meus agradecimentos ao Prof. Dr. Walter Hugo de Andrade Cunha e tenho o prazer de agora os repetir aos colegas:

 

Aos Professores Doutores que me conduziram no Curso de Pós-Graduação, que me mostraram o lado encantado e criador da ciência, que me viram como musicista, psicóloga e educadora, que me sensibilizaram com sua dedicação à Universidade e à aluna que me fizeram: Walter Hugo de Andrade Cunha [...]. (Dissertação, em 1985).

 

Ao Professor Doutor Walter Hugo de Andrade Cunha, pelo dedicado e sutil incentivo ao meu desenvolvimento, na descrição do comportamento humano. Quem reforçou meu encantamento pela observação e pelos "detalhes" apreendidos ainda criança com a artista plástica Maria Abbadia, minha mãe. (Doutorado, em 1995).

 

Ao Deus Eterno, todos os nossos louvores e agradecimentos. Ao Pai, nossos louvores e nossos agradecimentos pela vida íntegra do Professor Doutor Walter Hugo de Andrade Cunha e pelo seu amor a todos nós, indistintamente, à educação e à nação brasileira.

 

São Paulo, 3 de dezembro de 2014.

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